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Complementando sua magia de prosperidade

Complementando sua magia de prosperidade

Leitura em 21 min
Fonte: O Zigurate

Vamos supor que você seguiu meus passos delineados no texto da semana passada para ajudar na sua situação financeira: você refletiu bem sobre como você está e decidiu, por exemplo, criar um talismã para ajudar a atrair clientes. Para esse talismã, vamos supor que você tenha escolhido lidar com o planeta Júpiter e o seu arcanjo Tzadikiel. O talismã foi construído com todos os símbolos relacionados, numa quinta-feira de Lua cheia em Sagitário, na hora de Júpiter, com Júpiter numa posição favorável, e consagrado com um ritual que combinava o Ritual do Hexagrama da Golden Dawn, a invocação do Picatrix e 44 repetições do nome divino EL. E agora? Você senta a bunda e espera o dinheiro cair do céu? Claro que não. No meu texto anterior eu enfatizei os aspectos técnicos da magia de prosperidade, com uma ênfase nas práticas de spellcrafting que se aplicam para outros rituais, inclusive. Agora veremos melhor como complementar esses esforços mágicos com a parte mundana.

Antes de mais nada, porém, precisamos deixar algumas coisas claras, para evitar que alguém venha me acusar depois, como é muito comum no meio mágico, de acreditar em meritocracia esotérica, do tipo “quem é rico ou pobre é porque merece”, “rico trabalha mais” ou “prosperidade é a prova de amor de Deus” (como se vê nas teologias da prosperidade por aí). Não, pelo contrário. Eu digo e repito que a melhor forma de ficar rico é nascendo já numa família que tenha dinheiro – mesmo o Jeff Bezos, simplesmente o homem mais rico do mundo, recebeu um “paitrocínio” de 250.000 dólares em 1995 para começar a Amazon e com o aviso ainda de que havia “70% de chance de que seus pais não veriam aquele dinheiro de volta nunca mais”. Pois é.

(E eu nem vou falar nada da farsa que é o Donald Trump, um homem que ficou rico depenando a fortuna do pai, ainda em vida, para evitar pagar imposto sobre herança e que sempre vendeu sua imagem de sucesso aos desavisados, o que de fato o levou a fazer dinheiro, mas um dinheiro que ele sempre acabou perdendo por má administração. Como ele consegue manter essa imagem mesmo sendo incompetente o suficiente para perder dinheiro sendo dono de cassino, isso é um mistério)


Frans Francken, Croeso mostrando seu tesouro a Sólon. O rei Croeso, da Lídia, tornou-se lendário por sua riqueza.

Precisamos ser realistas, portanto. Se você está lendo este texto, você provavelmente nasceu no Brasil, o que, convenhamos, já não ajuda. Começou errado, em desvantagem. Isso é o que eu posso dizer do seu contexto sem te conhecer, e aí, claro, as possibilidades ao seu alcance vão depender da sua situação socioeconômica, da sua formação, etc., etc. De novo, isso no Brasil, com o nível de desigualdade de renda que temos, é um problema real. Depois, vem a questão da crise econômica pela qual estamos passando (piorada pela pandemia e pelo completo imbecil no governo). Ter isso em mente ajuda a manejar as expectativas. Não vou prometer que, com o esquema de rituais que eu ensinei, somado às diretrizes deste texto, seja possível para que qualquer um faça o seu primeiro milhão. Isso seria pilantragem minha, até porque eu não sou milionário e nem tenho ilusões de que isso seja uma possibilidade plausível no horizonte. Eu tenho uma certa personalidade que está longe de fazer de mim um bom vendedor (reconheço isso), uma aversão a assuntos de mercado financeiro e uma formação que nunca deixou ninguém rico. Esse tipo de coisa põe um limite no tipo de riqueza que eu posso acumular – e, por mais que, em tese, fosse possível fazer as alterações necessárias para mudar essa situação, é o tipo de coisa que eu não estou disposto a fazer – porém, dentro desse limite, eu acredito que eu esteja me virando muito bem e as práticas que eu ensino aqui e no texto anterior me ajudaram a reconstruir a vida depois de um retorno de Saturno completamente arrasador, sem rede de apoio, e uma vida prévia, anterior às práticas mágicas, em que muitos erros sérios foram cometidos.

O que dá pra fazer é o seguinte: se você está na merda, com um empurrãozinho místico, dá para dar um jeito de sair da merda. Não digo que seja fácil ou que só dependa “do quanto você quer”, mas algumas aplicações estratégicas de magia podem, aos poucos, resolver muita coisa. Uma boa limpeza já ajuda horrores, aliás, para começo de conversa. Agora, se você já está numa situação confortável, bem, que ótimo, primeiramente agradeça, porque, nas condições atuais, isso já é um milagre… depois, sempre dá para melhorar. O ideal, para mim, é garantir um padrão de vida estável e que permita tempo e conforto para se dedicar às práticas espirituais. Se você não consegue nem meditar porque está morando na casa dos pais com mais cinco parentes que não te dão nem dez minutos sozinho de silêncio e paz, se você está sofrendo de insônia e gastrite pelo estresse de não saber como vai pagar as dívidas ou se você trabalha 80 horas por semana e só sobra tempo para beber até desmaiar, infelizmente não tem como fazer grandes avanços na vida espiritual. Se você quer realmente tem a gana de se tornar um milionário, aí eu não sei o quanto minhas indicações poderão ser úteis.

O trabalho envolvido nas operações de prosperidade, pode-se dizer, são de três ordens: no nível da ação, no nível mental e no nível kármico. Vamos a ele.

Em raríssimos casos (tipo magia climática) é possível só fazer o ritual, sentar a bunda e esperar que as coisas aconteçam sozinhas. Até mesmo para magia de loteria, que não é a coisa mais indicada, é preciso algum esforço, pelo menos para ir até a lotérica, preencher o papelzinho e ver quantos bilhetes você vai comprar. E o pior: dependendo das forças contatadas (não são todas, porém, só as mais brutas, estúpidas ou amorais), se você não abrir um caminho para a manifestação das riquezas, elas podem vir de formas dolorosas, como o Rufus Opus bem aprendeu em seu trabalho com o demônio Bune1.

Logo, se você quer clientes, não adianta criar o talismã descrito no parágrafo de abertura deste texto e depois não divulgar o seu trabalho ou ainda pior, destratar os clientes. É preciso fazer propaganda, movimentar as redes sociais (por mais desagradável que isso seja), etc. Se você quer um emprego, também não adianta muito fazer o ritual todo e depois não mandar currículo ou então aparecer chapado na entrevista de emprego. Tudo isso cai na esfera do que eu chamo de ações, a parte realmente de pôr a mão na massa e fazer as coisas no plano material.

É por isso que eu falo para você pensar em cada passo do processo e como dá para aumentar as suas chances usando magia. Se você quer um emprego, então vale a pena começar fazendo alguma coisa para aparecerem vagas, para o anúncio dessas vagas chegarem até você e para o seu currículo chegar nas pessoas certas e ser notado (só não vai meter um sigilão nele, porque aí os empregadores vão ver e vão estranhar, óbvio). Depois, dá para fazer um trabalho subsequente para a sua entrevista e processo seletivo. Se você estiver estudando para um concurso, utilize técnicas energéticas para fortalecer o seu chakra ajna e concentre os seus esforços mágicos em melhorar sua capacidade de estudar e depois para manter-se calmo durante a prova e lembrar do que foi visto. Eu já vi um servidor compartilhado feito para ajudar a chutar as questões corretas em prova e, bem, se você precisa recorrer a isso, então, meu amigo, nem preciso falar que está fazendo tudo errado, né?

De resto, tem todas as questões ligadas a economia doméstica que é preciso considerar. Se você gasta mais do que ganha, se você se enche de dívida de cartão de crédito, deixando acumular juros, e gasta metade do salário com bar, Uber e Ifood, aí realmente vai ter que recorrer à magia financeira por emergência, o que não é legal. Mesmo que você tenha talento natural em manifestar esse tipo de grana com urgência, é desgastante demais viver na base do “meu Deus do céu, preciso de dois mil reais pra ontem!” Eu entendo que a gente recorre à feitiçaria para conseguir conquistar uma condição materialmente mais confortável (que, por sua vez, possibilita se concentrar melhor nas práticas espirituais, como dito acima), e viver na base do susto é contraproducente, nesse sentido. Ponha suas contas em dia, assista a uns vídeos da Nath Finanças, por exemplo, e não fique dependendo só da magia para te salvar no fim do mês. Se você mora com namorado/a, marido/esposa/etc, é importante os dois se alinharem nisso também. De nada adianta um lado economizar se depois vai ter que cobrir a parte do outro nos gastos básicos da casa, como mercado, porque o bonito torrou tudo com joguinho. Se você tem o seu próprio negócio, seja sensato. Eu já vi gente que tinha tudo para dar certo, que já veio de família com grana (o que lhe garantia um bom capital inicial), tinha know-how na área e equipamentos para o que queria fazer, mas acabou falindo por causa de bobagem.

Para quem tem interesse nessas questões de conciliar os esforços mundanos e mágicos, eu recomendo demais o Financial Sorcery do Jason Miller. Eu falo muito do Miller por aqui e, ainda que ele às vezes soe ocidental demais e possa se aproximar da autoajuda mais do que me deixa confortável, é notável que ele manja muito de magia de manifestação (o que ele chama de “feitiçaria”). Nesse livro, ele não apenas ensina várias técnicas mágicas, incluindo muita coisa de magia jupiteriana, invocações, talismãs, sigilos, cashboxes e tal, como também tem várias dicas para lidar com dinheiro. Nesse sentido, é importante que ele parte do princípio de que a gente precisa de dinheiro pra viver, que é um fato que parece óbvio, mas muita gente do rolê esotérico tende a ignorar. Se você odeia dinheiro e acha que é anti-espiritual, bem, o único modo de lidar com isso é virando monge e de fato renunciar a todas as suas posses mundanas em prol desse caminho. Se você não está a fim disso, continuar vivendo como vive, ganhando dinheiro e desejando ganhar dinheiro, mas reclamando disso o tempo inteiro, bem, isso é meio hipócrita, né – desejar uma coisa, ao mesmo tempo em que a condena e se sente sujo por desejá-la é o tipo de situação que se resolve com o analista ou sessão de BDSM. Essa dissonância não é condutiva à paz de espírito, nem à prosperidade. Ao mesmo tempo, ser escravo do dinheiro também não é a melhor saída. É preciso achar um meio termo, uma posição, como diz Miller, em que você domine o dinheiro e não o contrário.


Rei Midas, pintura de Nicolas Tournier (1620)

Por isso, é importante também cuidar da sua atitude, o que eu chamei de a dimensão mental do acompanhamento ao trabalho mágico. Assim, não que o pessoal do rolê espiritual não tenha boas razões para demonizar o dinheiro: gente rica costuma ser escrota mesmo. A mera existência de alguém com todo o dinheiro que o Jeff Bezos tem já é escroto por si só: alguém que fez fortuna na base de práticas predatórias e explorando trabalhadores e que poderia todos os dias simplesmente acabar com a fome no mundo se quisesse e ainda assim não o faz, essa pessoa e o sistema que possibilitou que ela ficasse assim são impossíveis de defender.

No entanto, eu diria que não é o dinheiro que faz com que essas pessoas sejam desse jeito – atribuir os males ao dinheiro em si é uma atitude meio cristã demais, inclusive, vide Mateus 19:24 e tal. Tem muita gente que é mesquinha, gananciosa e vil já sem ter dinheiro… o que ele faz é amplificar essa falha de caráter. O dinheiro em si é neutro, apenas um conceito útil que torna as coisas mais práticas para a gente (ninguém quer voltar ao sistema de escambo, afinal). De novo, a não ser que você queira virar um monge ou viver apenas e diretamente da terra, demonizá-lo não vai ajudar as coisas.

O Peter Carroll tem uma frase meio famosa que diz que o dinheiro é um espírito… e, bem, nesse assunto eu também prefiro ficar do lado do Jason Miller, que acha essa metáfora interessante, mas não afirma que o dinheiro seja literalmente um espírito, pelo contrário. Ele é intangível ao mesmo tempo em que permite manifestar coisas, sim, como é o argumento de Carroll, mas é uma força bruta e estúpida, que vai aonde for direcionada (nesse sentido, uma comparação com energia seria mais adequada). A pessoa que é um lixo humano simplesmente o direciona para coisas que são atraentes para o seu ego doente e permitem que elas o alimentem, num círculo vicioso. Carroll tem um ritual jupiteriano que se baseia na repetição do mantra “eu amo o dinheiro e o dinheiro me ama” e, por mais que, de resto, o modelo do seu ritual seja bem feitinho, eu não consigo endossar esse tipo de atitude2. Primeiro, porque essa é a música do Barney. Segundo, porque o dinheiro não ama ninguém: o amor é um fim em si (o Amor é a Lei, afinal), nós estamos aqui para amar uns os outros, e a natureza do dinheiro, como energia, é teleológica, servir a um propósito. Meramente acumular ou fazer circular dinheiro é uma atividade que só tem valor intrínseco, só é um fim em si, se você estiver doente do espírito, completamente desviado pela lavagem cerebral de um sistema capitalista que prefere manter a circulação de capital (a “economia”) a preservar a vida das pessoas. O valor do dinheiro é só como um recurso para realizar os seus desejos, por isso é importante, antes de tudo, pensar no que você quer de verdade. A minha sugestão já foi dada – ter uma vida confortável, a ponto de ter tempo para se dedicar às coisas que você goste e à espiritualidade –, mas cada um sabe do que quer e precisa.

Cultivar uma postura saudável em relação ao dinheiro é positivo não apenas por motivos mundanos, mas, como vimos no meu texto sobre formas-pensamento, pensamentos negativos que se repetem podem influenciar a realidade. No caso de prosperidade, pensamentos como “eu não mereço ter dinheiro” ou “vou morrer pobre”, ao serem fortalecidos, se instauram na aura e em chakras como o básico e o ajna, levando a uma autossabotagem num nível energético. E então as coisas dão errado de maneiras meio inexplicáveis e inesperadas. Sabe aquelas situações que tinham tudo para dar certo, mas de repente desmoronam, ao mesmo tempo em que você sequer demonstra surpresa, porque “já sabia que ia ser assim”, porque “era bom demais para ser verdade”? Então, é isso.

Mas espera um minuto: eu não quero sugerir com isso, de forma alguma, que seja o correto culpar a vítima, tipo “olha só, você é pobre porque está pensando as coisas erradas, tenha pensamento positivo que tudo muda!”. Calma lá. Há níveis, sabe? É mais ou menos como na limpeza energética: defumar a casa com palo santo não vai adiantar nada se tem bosta na parede. O processo é mais eficaz quando começamos no nível mais grosseiro e seguimos no caminho rumo ao mais sutil. Então, não, alguém que seja pobre não é pobre porque pensa coisas ruins sobre o dinheiro, há inúmeros motivos, principalmente sistêmicos, para a pobreza, que não envolvem o que você pensa3. Do mesmo modo, de nada adianta ter um pensamento superpositivo sobre dinheiro e continuar gastando mais do que ganha. A questão é que, neste texto, eu estou falando em soluções, em coisas que é possível fazer para dar um empurrãozinho na magia de prosperidade. Se você fez seus rituais e acompanhou com as atividades mundanas relevantes, o próximo passo é esse trabalho mental. Ele pode, inclusive, ser acompanhado de um trabalho espiritual complementar para pedir (aos deuses, anjos, santos, etc.) para ter a sabedoria necessária para lidar com o dinheiro.

Por fim, temos o trabalho dentro do domínio do kármico. O problema é que o karma é um assunto cabeludíssimo que eu não vou fingir que domino. Existem várias compreensões do karma, tanto dentro do pensamento hindu, quanto no budismo em suas várias vertentes, bem como suas apropriações e deturpações num mundo ocidental que não teve acesso aos textos originais, mas não deixou isso impedi-lo de opinar. E aí há questões complicadas sobre o tipo de karma que acumulamos e “resgatamos” dentro de uma única vida e o que fica para outras vidas, se existe karma bom e ruim ou se todo karma é ruim, o tipo de ações que geram ou não karma, as tensões entre karma e dharma (outra palavra com mais de um sentido!), etc, etc, etc. É o tipo de assunto também que deixa as pessoas muito contrariadas com a injustiça do mundo, tipo “como assim fulano fez isso e aquilo e ainda não pagou?” e, bem, as pessoas têm todo o direito de ficarem putas. Até mesmo no Antigo Testamento, Deus concede que a indignação de Jó não é infundada e que os seus amigos, que passam o livro inteiro tentando convencê-lo de que o mundo é justo e Jó que deve ter feito alguma cagada para merecer a chuva de merda que caiu na sua vida, estão errados. Ao mesmo tempo, Deus dá a maior carteirada da história da literatura para calar a boca de Jó, que é basicamente: “Você consegue fisgar o Leviatã com um anzol? Não? Então baixa a bolinha aí que você não sabe de nada”.

Por isso, nesse quesito eu sou pragmático. Eu não consigo fisgar o Leviatã, então vou me abster de opiniões especulativas sobre a justiça ou injustiça inerente do mundo. Ao mesmo tempo, o fato é que algumas ações nesse quesito podem te ajudar muito, mesmo que você não acredite em karma. É como diz Crowley da magia, “ao fazer certas coisas, certos resultados se seguem”. No caso da prosperidade, uma dessas certas coisas que dão certos resultados (positivos), acredite se quiser, é a doação.

Não sou nem eu quem está falando, apesar de ser outra testemunha da veracidade dessa afirmação. Quem me ensinou isso foi a Cura Prânica, as palestras e meditações, os livros do Master Choa Kok Sui e as conversas com a Maíra aqui em casa. Parece contraproducente, mas doar (idealmente 10% do que você ganha, mas qualquer quantidade já ajuda) faz o dinheiro circular e voltar. Há autores de práticas mais ocidentalizadas, inclusive, que fazem a mesma recomendação, ainda que não falem de karma. De novo, o Miller, no capítulo 12 de Financial Sorcery (e olha que ele é um cara excessivamente ocidental às vezes) sugere isso e também o Sam Block, no contexto da magia angelical, comenta que você não deve fazer oferendas ao conjurar anjos, pois eles preferem é que você doe dinheiro para caridade. Agora, se isso funciona porque gera bom karma ou se é porque agrada os anjos e deuses, não importa: o que importa é que funciona e de quebra você faz algo bom para alguém4. Escolha uma caridade de sua preferência e tente doar, todo mês, uma porcentagem dos seus ganhos – dentro das suas possibilidades, óbvio… doar mais do que você pode doar é um gesto muito cristão, mas não é dos mais racionais e acaba sendo contraproducente, energeticamente. Assim, quanto mais você ganhar, mais você vai poder doar, criando um círculo de retroalimentação positivo.

Na magia astrológica, um dos planetas mais consultados para prosperidade é Júpiter, que incorpora a própria noção de generosidade. De uma perspectiva do arquétipo astrológico, ao incorporá-lo igualmente e agir com generosidade, você está convidando o universo para ser generoso com você também. Nessa direção se enquadram as doações, mas também uma outra mudança de comportamento no nível mental que é 1) cultivar a gratidão (eu sei que isso pode soar tilelê, mas é que simplesmente ninguém, encarnado ou não, gosta de gente ingrata) e 2) evitar ser mesquinho.

E isso nos leva a outro ponto importante: cuidado com as magias que você faz contra outras pessoas. Um tempo atrás o pessoal no meio esotérico pregava a Lei Tríplice, mas essa modalidade mais fofinha de Wicca perdeu muito sua popularidade e, de uns tempos para cá, o mais comum é uma postura mais hex-positive que, por mais que seja mais adequada ao éthos clássico da bruxaria e muitas vezes seja direcionada a causas sociais válidas, talvez tenha levado a um tratamento leviano demais do assunto. Mesmo sem entrar o karma na jogada, existe mais coisa envolvida em magia maléfica que pode atrapalhar suas outras práticas. Entrar em combate astral não é diferente de sair na mão com outra pessoa: você pode achar que está com a vantagem porque bateu primeiro, mas acabar apanhando feio, porque não sabe o tipo de aliados espirituais que essa pessoa tem.

Depois, tem a questão das forças envolvidas no ataque. Usa-se proteções como o círculo e triângulo, no caso da magia cerimonial, ou banhos depois, no Hoodoo, porque essas forças são perigosas. Mas, mesmo que você possa diminuir sua exposição a elas com essas medidas de segurança, é ingênuo achar que você está 100% seguro e que, com a repetição desses rituais, alguma coisa não vai acabar grudando em você. Uma característica recorrente que eu tenho observado é que a pessoa que roga muita praga tende a ficar obcecada com o assunto, tudo ela quer resolver na base da vela preta. Teve um caso famoso, este ano, de um ocultista de um grupo gringo de magia astrológica que ficou paranoico com os outros membros e saiu distribuindo vela preta a torto e a direito. No intervalo de semanas, esse cara lançou, sem brincadeira, algo em torno de 60 maldições. Eu não tenho a menor dúvida de que uma pessoa dessas está totalmente na mão do palhaço, energeticamente.

Voltando ao contexto jupiteriano, o uso liberal de pragas não deixa de ser um exemplo de mesquinharia: “fulano me fechou no trânsito, vou pegar a vela preta”; “essa arroba falou mal do meu filme favorito, vou botar um servidor na cola dela”; “vou chamar um demônio porque fulana me deu um fora”. Pondo nesses termos, fica bem patético, né? E não é isso que você quer cultivar.

Para encerrar, eu gostaria de voltar ao que eu disse no meu outro texto. O primeiro passo, ao elaborar um ritual de prosperidade, é pensar no resultado em termos precisos: o que você quer exatamente e para quando? Se você quer ser rico e a única possibilidade é ganhando na loteria5, então complicou. Mas conseguir um emprego e atrair clientes são possibilidades bem viáveis e dá para começar daí.

Agora neste texto eu enfatizei os objetivos de longo prazo: o que você pretende fazer quando tiver dinheiro? Porque esse tipo de coisa não dá para resolver de uma vez, é importante concentrar os esforços de médio prazo em estabelecer um estado de prosperidade. Essa expressão, para mim, descreve aquela situação em que as coisas estão caminhando, por assim dizer: quando você tem dinheiro entrando e vislumbra outros projetos no horizonte enquanto os projetos atuais são concluídos, ao mesmo tempo em que pode guardar uma parte desse dinheiro, doar outra e investir outra ainda a fim de conseguir fazer mais dinheiro circular. E isso sem se apertar, sem precisar fazer cortes absurdos, como viver à base de miojo, e podendo dar conta de gastos imprevistos sem abalar demais seu orçamento. Este é o meu conceito de um estado de prosperidade e, por mais que alguém possa dizer que esse conceito soa capitalista, o que define o capitalismo é que, nele, esse processo é um fim em si, e eu enfatizei repetidamente que isso é doentio e que o dinheiro deve ter um propósito. De novo, estamos inseridos num sistema em que o dinheiro é uma necessidade. Mesmo que seu objetivo seja, por exemplo, comprar um terreno para ter uma horta e umas galinhas e fundar uma comuna para viver da terra e da maneira menos dependente possível desses sistemas, você vai precisar começar de algum lugar.

As pessoas em geral têm uma ideia muito errada da magia, especialmente no que diz respeito a dinheiro. De um lado tem o pessoal místico que acha que o dinheiro é sujo, a ponto de ter que inventar uns eufemismos ridículos como “energia de troca” por terem vergonha de cobrar por uma leitura de tarô. E até ocultistas de sucesso, como Spare, tiveram problemas com dinheiro, o que, ao mesmo tempo em que isso não deve ser um julgamento das suas capacidades como magista, também não deve ser glamourizado, como se a pobreza fosse uma prova de algum tipo de santidade. Por outro lado, tem quem ache que todo magista é o Fausto das lendas, que pode mandar Mefistófeles trazer-lhe ouro quando bem entender. Em vez disso, a coisa toda é, na verdade, um processo, cujas variáveis incluem a sua situação prévia e o seu desenvolvimento mágico-espiritual. Ter isso em mente ajuda a manejar as expectativas e a se planejar, de modo que você não fique frustrado quando fizer um ritual complexo de duas horas de magia cerimonial, mas continuar devendo no banco. Nem na magia existe uma solução milagrosa.

* * *

[1] Em resumo, ele precisava de uma quantia de dinheiro, fez a petição em termos que davam margem para esse dinheiro vir de qualquer jeito, e acabou que a casa pegou fogo e ele recebeu o dinheiro do seguro. Rufus Opus relata a história no seu blog.

[2] Alguém pode rebater aqui dizendo que isso funcionou para o Carroll, que deve ter uma grana boa (certamente mais do que eu… até porque seu dinheiro deve estar numa moeda de verdade e não uma que vale menos que o seu peso em jujuba), o que é um bom ponto. Porém, eu diria que 1) ninguém garante que foi por causa desse ritual e dessa postura que veio a sua riqueza (ele ter virado um autor famoso e referência na área mais popular da magia dos últimos anos certamente ajudou) e 2) pode ter funcionado para ele em certo momento, mas não quer dizer que vai funcionar para você agora. Se você espera amor do dinheiro, você está se pondo na posição ideal para ser dominado por ele.

[3] Que a pobreza tende a prender as pessoas nela é um fato bem conhecido, vide o conceito de “ciclo da pobreza”. É estúpido, cruel e irresponsável sugerir que essas pessoas não saem da pobreza simplesmente porque “não querem o suficiente” ou “não pensam as coisas certas”.

[4] Há quem possa dizer que doar pensando na vantagem que você pode tirar da doação, ainda que indiretamente, por meios metafísicos, não é altruísmo verdadeiro. Sobre essa questão, eu tenho duas coisas a dizer: a primeira é que você pode sim fazer a doação tendo em vista ambas as coisas, tanto uma vontade, do fundo do seu coração, de realmente ajudar o próximo quanto de melhorar a sua situação financeira, até mesmo porque isso vai se traduzir em uma capacidade maior de ajudar. Depois, querendo ou não, nós somos seres dotados de ego. Ser capaz de doar e ajudar o próximo sem realmente não esperar absolutamente nada em troca é um ideal nobre, mas digno de monges e santos. Se você não é nenhuma dessas coisas, por que você vai cobrar esse tipo de postura de si mesmo? No mais, o argumento do “altruísmo verdadeiro” pode muito bem também ser uma desculpa para não se fazer nada.

[5] Vale lembrar que nem isso é garantia de riqueza e prosperidade. Basta ver o tanto de histórias de gente que ganhou milhões na loteria e perdeu tudo.

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