Esoverso
Conceitos astrológicos básicos para leigos

Conceitos astrológicos básicos para leigos

Leitura em 15 min
Fonte: O Zigurate

Eu tenho uma relação complexa com a astrologia. Eu mesmo não sou astrólogo, não vou ler o seu mapa para você e não vou arriscar grandes previsões – tem gente muito mais preparada do que eu para isso, que eu posso recomendar, inclusive1. Mas a astrologia faz parte da minha vida. Eu faço sim, uso do mapa de quem eu atendo em minhas consultas, para observar certas questões pontuais, e sou um grande entusiasta de rituais de magia astrológica, que são os trabalhos feitos na energia de uma dada força celestial. A forma mais comum e básica de magia astrológica trabalha com os sete planetas clássicos, mas existe também o trabalho com os signos, com as constelações, com os decanos, com as mansões da lua, estrelas fixas e outras coisas. Agora, aproveitando que o nosso último texto no site foi sobre os pantáculos de Salomão e à véspera de dar aulas para mais uma turma do meu curso de magia astrológica, eu acho que seria interessante escrever algo para iniciantes, já que muito disso será abordado no curso e é bom ter um texto aqui para servir de referência.

Mosaico zodiacal da sinagoga Bet Alfa, do século VI

O que eu pretendo fazer neste texto não é dar uma explicação complexa, mas tentar ensinar o básico dos componentes de um mapa astral – dentro do possível, óbvio, considerando os limites de um texto de blog – para que ninguém olhe mais para o mapa e pense “que porra é essa?”. É claro que a parte mais difícil é interpretar e entender como aqueles elementos todos dialogam de um modo que faça sentido, mas é preciso saber andar antes de correr, não é mesmo?

Primeiramente, o que é um mapa astral? O que é essa roda? Qual é o sentido disso tudo?

Quando você vai num app ou num site como o Astro.com, o Astrotheme, o Astro-seek, ou outro lugar do tipo, e manda fazer um mapa, o que você vai obter é um registro do céu num dado momento. O céu, óbvio, está sempre se movimentando, mas esses recortes são importantes, porque essa configuração vai ficar impressa, por assim dizer, em tudo que começa naquele momento. A ideia da magia talismânica vem daí: quando o céu do momento está favorável para a energia de um dado planeta, é como se o talismã congelasse aquele momento e então você pode usufruir disso mais tarde. A metáfora do John Michael Greer é a da geleia e compotas. As frutas nos pés dão em certo momento do ano, e você pode aproveitá-las nesse período, mas se souber fazer uma compota, uma geleia, passas ou outra coisa do tipo, dá para aproveitar durante mais tempo, quando não estiver mais na estação. O ato de criar um mapa astral no futuro para tentar achar o momento ideal para algo que você pretende fazer é o que chamamos de uma eleição, astrologia eletiva.

Abaixo, podemos ver uma eleição de um possível talismã de Júpiter cazimi para o ano de 2025:

Mapa de um possível talismã de Júpiter cazimi em 2025. Cazimi quer dizer “no coração do Sol”, quando um planeta fica até 17 minutos de distância do Sol, o que lhe concede grande força. O horário é 6:30 de terça-feira em São Paulo, logo antes do amanhecer, quando ainda é, astrologicamente, horário de Júpiter na segunda, dia da Lua. Infelizmente a Lua em Gêmeos quase nova não é uma Lua nem um pouco legal para esse trabalho, mas cazimis são eventos raros e não dá para escolher muito. Pessoalmente, eu não recomendaria fazer esse talismã, a não ser para algum uso muito específico, mas serve aqui para exemplo.

Fora do contexto mágico, eleições são usadas para se começar alguma coisa. Por exemplo, você vai marcar um evento específico, como um casamento. Aí vai lá e vê qual é o melhor dia, segundo o céu. Se você evita casar com Vênus retrógrada ou comprar um eletrônico com Mercúrio retrógrado2, você já está fazendo um pouco isso, mas dá para levar a coisa além.

Quando falamos na carta natal, o relevante aí é o recorte do céu no momento em que a gente nasce, a hora em que damos a primeira golada de ar neste mundo. É aquilo que nós vamos levar para o resto da vida. Mas, de novo, também dá para olhar o mapa natal de coisas mais abstratas, como um evento ou um país3. Aqui tem uma leitura do mapa de Woodstock 99, que, como todo mundo sabe, foi um perfeito desastre. No caso de nações modernas, em que temos o horário certinho, dá para traçar um mapa bem completo. Aqui vocês podem ver uma leitura do mapa do estado moderno de Israel, por exemplo (spoiler: também é horrível).

Certo? Agora que a gente entendeu isso, vamos olhar os componentes desse diagrama.

O céu é complexo, porque existe num espaço tridimensional. Por isso, o mapa astral vai simplificar bastante as coisas. É um mapa, afinal, e não devemos confundir o mapa com o território.

Vamos começar explicando essa roda: o nome disso é eclíptica e ela mapeia o caminho do sol. Vocês vão reparar que ela é dividida em duas metades (onde tem um risco que diz ASC e DSC), porque a perspectiva do mapa é geocêntrica, isto é, a partir de onde nós estamos olhando. E daqui da terra, quando olhamos para o céu, tem uma parte que está visível, acima da linha do horizonte, que é o que divide a eclíptica em duas metades, e outra parte invisível. Assim podemos entender o ascendente: ele representa o que está no leste.

Um mapa astral feito quando está amanhecendo sempre vai ter o Sol no ascendente. Indo pela mesma lógica, um mapa astral feito ao por-do-sol vai contar com o Sol no lado oposto, i.e. o descendente, no oeste. Ao meio-dia, o sol fica no MC, que é o meio do céu. E, perto da meia noite, ele vai, logicamente, para o lado contrário, o fundo do céu (IC, do latim imum coeli, que quer dizer isso mesmo). O mapa da eleição talismânica que está ali acima é de um momento logo antes de amanhecer, por isso o Sol está a pouquíssimos graus do ascendente.

A partir daí, já dá para deduzir algumas coisas. Se alguém diz que tem o ascendente e o Sol num mesmo signo, você sabe que essa pessoa nasceu perto do amanhecer. Se o ascendente e Sol estão em signos opostos (signos opostos são: Áries e Libra, Touro e Escorpião, Gêmeos e Sagitário, Câncer e Capricórnio, Leão e Aquário, Virgem e Peixes), é porque ela nasceu ao anoitecer. E a partir do que está entre os signos dá para saber se ela nasceu de dia ou de noite (ascendente em Áries e Sol em Touro, a pessoa nasceu de noite, porque Touro vem depois no zodíaco; ascendente em Áries e Sol em Peixes, a pessoa nasceu de dia). Mas já já vamos falar dos signos, calma.

Os planetas

Agora que você sabe o que é essa roda, vamos para os planetas. Cada símbolo ali é um planeta, e esses são seus símbolos clássicos. Como explica o Guilherme de Carli, no seu curso, a disciplina da astrologia se concentra nas luzes no céu, chamadas genericamente de astros. E existem dois tipos de luzes, basicamente: as chamadas “estrelas fixas” e os planetas, do verbo grego “planeo“, que significa “eu vago”. Ou seja, os antigos observaram que certas luzes eram mais estáveis, e outras menos: são estas os dois luminares, que são o Sol e a Lua, e os cinco astra planeta: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Daí a importância do número 7 nas culturas em que a astrologia era relevante. É daí que veio a semana de 7 dias, inclusive.

Os planetas chamados transaturninos (Urano, Netuno e Plutão, assim chamados por estarem além de Saturno, que é o planeta mais distante na astrologia tradicional) não fazem parte da astrologia clássica, porque não foram descobertos na antiguidade, mas apenas nos séculos XIX, XIX e XX, quando foram incorporados à astrologia moderna. Isso se dá por conta da sua distância, que os torna invisíveis a nós. Eu pessoalmente não faço coro com os tradicionais em repudiar os transaturninos, mas o uso que eu faço deles é limitado e acho que é bom aprender astrologia sem eles antes de incluí-los no meio.

Ao reconhecer cada símbolo, dá para entender onde está cada planeta no céu. De novo, a referência aqui é a eclíptica, que é o caminho do Sol. Na realidade, os planetas não ficam colados no Sol no céu, claro, mas espalhados, a uma distância maior ou menor da eclíptica, que também varia ao longo do ano. Mas isso não é tão relevante e dá para abstrair, pelo bem da representação. E aí, por exemplo, quando Mercúrio aparece no leste, você sabe que ele vai estar no signo do ascendente. Quando o Sol está em Áries e você vê o Sol nascer, naquele momento você sabe que o ascendente está em Áries. Se Mercúrio estiver ali, ele vai estar em Áries também. É assim que funciona.

Observando esses detalhes também é possível entender as fases da Lua num mapa astral. A Lua nova é a conjunção do Sol com a Lua, por isso acontece quando os dois estão no mesmo signo. A Lua cheia é o contrário, a oposição entre os dois luminares.

Amanhã, por exemplo, teremos a Lua cheia de 17/9. Nessa data, o Sol estará em Virgem e a Lua em seu oposto, que é Peixes (e aí entra também o fato de que teremos um eclipse, ocasião em que entram em ação os chamados nodos lunares). Assim sendo, de Virgem para Peixes (signos de Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio e Aquário), a Lua estará crescente, pois está indo da nova para a cheia, ganhando luz. De Peixes para Virgem (Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão), ela estará minguante, pois estará perdendo luz.

Signos

E agora entramos no assunto dos signos, que é um pouco mais complexo. A eclíptica é um círculo, logo tem 360 graus. Os signos são as doze divisões da eclíptica, cada uma dotada de 30º. Um tipo de luz celeste, como vimos, são os planetas, que vagam pelo céu. O outro tipo são as estrelas propriamente, chamadas de estrelas fixas, que a gente sabe que não são tão fixas assim, mas caminham pelo céu num ritmo muito mais lento. As estrelas sempre foram importantes para a astrologia e saberes astronômicos – como se sabe, o Egito marcava o princípio do seu calendário com o nascer helíaco da estrela Sirius. Grupos de estrelas formam constelações, e muitas das constelações que a gente ainda tem como referência já foram traçadas pelos antigos mesopotâmicos, como Touro, Leão e Escorpião, inclusive com esses mesmos nomes, em tradução. Dentre as várias constelações no céu, tem 12 em especial que deram nome aos 12 signos.

Imagem ilustrativa. As constelações não estão mais alinhadas com os signos na astrologia tropical.

A parte complicada é que existe algo chamado de precessão dos equinócios, que dá uma bagunçada nas coisas. Em algum momento do período helenístico, quando a astrologia grega é sistematizada a partir de suas referências egípcias e babilônicas, as constelações encaixavam com os signos, mais ou menos. Assim, os signos têm todos o mesmo tamanho (30 graus, 1/12 do círculo), enquanto as constelações variam, mas um mapa feito nessa época, indicando as principais estrelas fixas de cada constelação, vai encaixar bonitinho. Infelizmente, por conta da precessão dos equinócios, esse não é mais o caso, e as estrelas da constelação de Escorpião, como Antares, por exemplo, já estão no meio do signo de Sagitário. E aí tem uma divisão entre as disciplinas astrológicas, porque a dita astrologia ocidental decidiu fixar a sua roda zodiacal estabelecendo que o começo de Áries é marcado pelo primeiro dia da primavera no hemisfério, no equinócio, por isso é chamado de horóscopo tropical. Já a astrologia védica é sideral e acompanha o deslocamento das estrelas. É por isso que quando alguém acostumado com o zodíaco ocidental faz seu mapa com um astrólogo védico pode acontecer de “trocar de signo”. Qual das duas é “a correta” é motivo de contenda entre astrólogos e eu não vou entrar aqui nessa discussão.

O importante é saber que: os signos são abstrações, repartições da eclíptica, e não equivalentes às constelações. Por isso é uma tremenda bobagem quando volta e meia algum site de fofoca diz que a NASA estabeleceu um 13º signo. É um tipo de afirmação que consegue ser burra em múltiplos níveis.

Os 12 signos, por sua vez, se dividem em alguns grupos. Cada signo possui uma modalidade, um elemento e um planeta regente. Um signo pode ser cardinal (os que começam as coisas), fixo (os que estabelecem as coisas) e mutáveis (os que transformam as coisas). Eles podem ser de fogo, ar, água ou terra. E podem ser regidos por qualquer um dos 7 planetas clássicos. Áries, por exemplo, é um signo de fogo cardinal regido por Marte. Por isso ele tem uma grande energia para começar as coisas e impor a sua vontade (a palavra-chave do elemento fogo), nem que precise ser à força, mas não necessariamente consegue segurar essa empolgação inicial. Já Touro é um signo fixo de terra, regido por Vênus. E assim por diante. Existem muitas combinações que seriam teoricamente possíveis, mas que não existem nessa realidade. Eu me divirto muito em imaginar como seria, por exemplo, um signo fixo regido por Júpiter ou um signo mutável de Saturno.

Uma coisa que é importante a gente enfatizar é que nós NÃO SOMOS UM SIGNO. Esse é um erro que a astrologia pop botou na nossa cabeça. Quando alguém é descrito como um sagitariano, isso só quer dizer que ela nasceu com o Sol em Sagitário, e sim, isso é relevante, mas tem outros planetas que desempenham um papel mais importante no seu mapa. Pela astrologia tradicional, o signo do seu ascendente é mais importante do que o seu Sol, inclusive pela particularidade, porque o signo do ascendente muda de hora em hora, enquanto o Sol fica 30 dias por ano em cada signo. E o regente do ascendente, por sua vez, acaba ganhando importância também.

Sobre a relação entre os signos e os planetas, eu gosto de fazer uma comparação com atores e papéis em filmes. Marte eu acho que dá para comparar com o Schwarzenegger. Em certos signos, Marte fica confortável (Áries, Escorpião e Capricórnio, em especial). É o Schwarzenegger em Conan, o Bárbaro, em Predador, em O Exterminador do Futuro. Em outros signos, especialmente signos que tratam de cuidados e atenção (Touro, Câncer, Libra), ele fica desconfortável e seu desempenho sofre (e o filme também, por consequência), daí umas bombas como Júnior e Um tira no jardim de infância. Isso é o que chamamos de dignidade essencial.

Por fim, tem mais dois conceitos importantes, mas que não vai ser possível tratar aqui, por uma questão de ênfase. Temos as casas astrológicas, que trata das posições dos signos e os significados que eles assumem no céu do momento, definidos de acordo com o ascendente; e os aspectos, que são os ângulos formados entre os planetas. Aliás, falamos já de dois aspectos acima, quando tratamos das fases da Lua, que são a conjunção e a oposição. Existem três outros aspectos principais (trígono, sextil e quadratura) que definem as relações entre os planetas, que podem ser mais ou menos harmoniosas.

Se você clicou neste texto e se dispôs a prestar atenção, eu gostaria que, ao sair dele, você conseguisse já fazer esse tipo de leitura, de olhar o mapa e identificar qual é o símbolo de cada planeta e em que signo ele está. Na nota de rodapé aqui está a cola referente ao mapa que eu postei acima, da eleição de Júpiter do ano que vem4.

Você pode não saber o que isso significa, mas conseguir entender a gramática da coisa já é um grande passo, até porque os significados variam dependendo do contexto. Uma eleição excelente para um talismã não necessariamente renderia um mapa astral bom para uma pessoa, e vice-versa. E mesmo com esse conhecimento superbásico, já dá para seguir instruções básicas para observar a eleição de um talismã ou ritual. Nos livros do Warnock, ele ensina quais são os pré-requisitos para um talismã bem-sucedido. Familiarizando-se com esses conceitos, dá para calcular datas bem razoáveis mesmo que você não faça ideia do que dizer para uma pessoa se ela te contar que tem Marte em Câncer no seu mapa natal.

O resto, como tudo, é pegar prática.

Se esse assunto te interessa, recomendo tirar um tempo para estudar mais a fundo, a fim de ir além desse básico. Os livros da Demetra George, Ancient Astrology in Theory and Practice, são excelentes e bastante didáticos, por exemplo. E tem também o pessoal que eu indiquei aqui na primeira nota de rodapé desse texto, o famoso Astrology Podcast do Chris Brennan, e outros materiais. Para praticar magia, ninguém precisa ser um astrólogo, mas um conhecimento rudimentar de astrologia ajuda muito.

* * *

As aulas da próxima turma do módulo I do nosso curso de Magia Astrológica serão ministradas no fim de semana dos dias 28 e 29 de setembro. E vale lembrar também que hoje é o ÚLTIMO DIA para se inscrever em nosso curso de Limpeza e Proteção Energéticas, que começa amanhã!

* * *

(Obrigado pela visita e pela leitura! Se você veio parar aqui n’O Zigurate e gostou do que viu, não se esqueça de se inscrever em nosso canal no Telegram neste link aqui. Anunciamos lá toda vez que sair um post novo, toda vez que abrirmos turmas para nossos cursos e todo tipo de notícia que considerarmos interessante para quem tem interesse em espiritualidade, magia e ocultismo. E, se quiser agendar um atendimento comigo, é só clicar aqui ou neste link para procurar um atendimento com a Maíra. Também estamos no Instagram (@ozigurate) e Blue Sky (ozigurate.bsky.social e pranichealer.bsky.social).)

* * *

  1. Recomendo o Wilson, do Hórus Astrologia (aqui o seu canal no YouTube, onde ele anda mais ativo com suas lives); a Ísis Daou, da newsletter Meio do Céu, e o Guilherme de Carli, do Nodo Norte Astrologia. ↩︎
  2. A retrogradação descreve períodos durante os quais os planetas dão a impressão de estarem andando para trás, ou seja, em vez de seguirem na ordem normal dos signos (Áries, Touro, Gêmeos), eles vão ao contrário (Gêmeos, Touro, Áries). ↩︎
  3. Tem ainda uma outra forma de astrologia, que é a horária, em que você abre o mapa no momento em que recebe uma pergunta, e a configuração do céu vai responder àquela questão. ↩︎
  4. A cola: Sol em Câncer (3º8′), Lua em Gêmeos (18º50), Mercúrio em Câncer (26º43′), Vênus em Touro (18º51′), Marte em Virgem (3º58′), Júpiter em Câncer (3º18′), Saturno em Áries (1º38′) ↩︎
Política de PrivacidadeTermos de Uso